Poesia para começar o dia...
PARA O SEXO A EXPIRAR
Para o sexo a expirar, eu me volto, expirante.
Raiz de minha vida,
em ti me enredo e afundo.
Amor, amor, amor —
o braseiro radiante
que me dá, pelo
orgasmo, a explicação do mundo.
Pobre carne senil,
vibrando insatisfeita,
a minha se rebela
ante a morte anunciada.
Quero sempre
invadir essa vereda estreita
onde o gozo maior
me propicia a amada.
Amanhã, nunca mais.
Hoje mesmo, quem sabe?
enregela-se o
nervo, esvai-se-me o prazer
antes que,
deliciosa, a exploração acabe. Pois que o espasmo coroe o instante do meu termo,
e assim possa eu partir, em plenitude o ser,
de sêmen aljofrando o irreparável ermo.
CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE
Poesia erótica. Poesia sensual.